8.1.13

Manhãs assim

Photo by Marion Berrin

(...) Entrei na casa-de-banho, pus a água a correr para a banheira e abri a janela para deixar entrar aquele frio de Dezembro que, como as águas do mar das praias mais agrestes, se pega ao corpo como uma segunda juventude e faz parecer tudo repentinamente mais limpo. Pensei em Jorge, que nunca mais haveria de querer morrer, se na sua vida houvesse uma manhã de Inverno como aquela, assegurando que a última folha da árvore estaria para cair em breve e que a Primavera não tardaria a reparar tudo. Seria preciso que alguém lhe contasse que havia, de facto, manhãs assim, em que, subitamente, acordávamos de uma morte demoníaca, mas uma vida inteiramente nova, limpa de todas as manchas, nos aguardava. (...)

(Maria do Rosário Pedreira, in Alguns homens, duas mulheres, e eu.)

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