22.4.20

Lately: 40 days on quarantine
















40 dias em casa e, como grande parte das famílias no mundo inteiro, a reinventar formas de funcionar. Têm sido dias de ser mãe, mulher, filha, dona de casa, artista e gestora de um pequeno negócio a tempo inteiro, tudo ao mesmo tempo, e ainda a precisar de só ser (e a falhar a maior parte das vezes). Sinto muita falta do meu silêncio e de dormir melhor. Tenho muitas saudades dos meus pais, do meu irmão, da natureza e de caminhar. Sinto-me mais animada nos dias de sol, e irritada nos dias cinzentos.  Sinto menos ansiedade e menos medo, mas mais melancolia, uma tristeza que vem de repente, por ondas. Sonho muito de noite, coisas estranhas, e tenho tido recordações de infância inesperadas. Aproveito as pequenas saídas para ir levar o lixo ao eco-ponto para espairecer e imaginar que os pequenos espaços verdes da cidade são outro lugar qualquer, no campo. Tento acompanhar a Primavera o melhor que posso e não perder cada pormenor nas curtas saídas para compras. Cada flor que abre no meu modesto jardim-varanda é motivo de festa e os meus vasos são o meu motivo favorito para fotografar. Estou perita em fazer pão na máquina, dia sim dia não. Na Páscoa fizemos um folar de massa mãe que estava delicioso, e uma caça aos ovos cá em casa, a Nina adorou. A casa nunca esteve tão arrumada e os dias de limpeza têm sido terapêuticos, vou mudando coisas de sítio, trago flores silvestres para nos alegrar a sala, crio cantos especiais que me dão alegria. São dias de pausa em tudo o resto e servem para limpar a cabeça também. Organizei os nossos livros todos, finalmente. Tenho lido bastante, remendei alguma roupa, fiz máscaras de tecido para nós, tenho terminado encomendas em atraso, mas não tenho tido tempo para mais nada. Os dias passam a correr, por incrível que pareça.
Admiro a paciência dos professores e sinto um estranho conforto nos trabalhos da escola. Agradeço muito a todas as pessoas que continuam a trabalhar e a assegurar que a nossa vida lá fora continua o mais normal possível. Percebo que isto só resulta se todas as expectativas ficarem para trás e me deixar ir na corrente, se encarar um dia de cada vez sem perguntar quantos mais faltarão. Nunca o exercício da aceitação me fez tanto sentido. Tento focar-me nas coisas boas, na segurança que a nossa casa nos dá, e no amor que nos une. E em acreditar num futuro melhor, mesmo que ainda falte muito tempo e não saiba bem qual o preço a pagar por ele. Uma coisa é certa, nunca pensei sobreviver a 40 dias de quarentena e cá estou, quase que habituada a esta nova realidade. Como tem sido para vocês?

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40 days at home and, like many families around the world, reinventing a whole new way of functioning. These have been days of being a mom, wife, daughter, housewife, artist and small business owner full time, all at the same time, and still needing to just be (and failing most of the times). I miss my silence a lot, and a good night sleep. I miss my parents so much, and my brother, nature and walking. I feel better on sunny days, irritable on grey ones. I've felt less anxiety and less fear, but more melancholy, a sadness that comes suddenly, by waves. I've been dreaming a lot at night, strange things, and have had unexpected childhood memories. I've been enjoying short walks to the recycling bins to relax and imagine small green places in the city are somewhere else in the countryside. I've been trying to keep up with Spring as best I can, and not miss every detail in my short shopping trips. Each new flower that blooms in my modest balcony garden is worth celebrating and my plant vases are my favourite photography themes. I'm getting a pro at making bread in the bread machine, every other day. On Easter, we baked a delicious cake with sourdough, and did an egg hunt at home, Nina loved it. Our house has never been so tidy, and cleaning days have been therapeutic, I move things around, bring wildflowers inside to brighten up our living room, and arrange special corners that make me happy. They feel like days of pause from everything else, and they help clean my head as well. I have finally organized our books, been reading a lot, mended some clothes, made fabric masks for us, have been finishing orders, but haven't had time for much more. Days go by running, as strange as that might sound.
I admire teachers' patience, and feel a strange comfort in school work. I feel very grateful to all the people that keep working to ensure our lives outside continue as normal as possible. 
I realize that this only works if all expectations are left behind and I let myself go with the flow, if I face one day at a time without asking how many more are still left. Never has the exercise of acceptance made so much sense to me. I try to focus on the good things, the safety of our home, and the love that keeps us together. And believe in a better future, even if there is still a long time to go and we don't know what price we have to pay for it. One thing is for sure, I never thought I'd survive 40 days of quarantine and here I am, almost used to this new reality. How have you been doing?

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