13.5.04

escrevo-te

não que saiba escrever ou dizer o que quero

Resolvi passear e na tarde acontece

encontrar o lenço no bolso e dos beirais ao olhar a rua

a rua chegar à porta escrevo-te

porque me apetece escrever e ainda esta manhã te vi e

Compro o jornal e

da esplanada escrevo a canivete os nossos nomes no ar do rio

escrevo-te e as palavras duram mais

e são ditas de todas as vezes que lidas e

não que saiba escrever ou dizer o que quero Entro

e o autocarro está cheio

e ainda esta manhã te vi e

Passeei a tarde inteira e se me acho nos beirais dos bolsos

e se acontece vir das a casa que leias o que te digo

de todas as vezes

Então pedi um café demorado e não li o jornal

e dos beirais das o nome às coisas e

os pombos juntam-se aos velhos no jardim e o autocarro está cheio

E acontece vir dar a casa escrevo-te

e antes do jantar entrego-te esta carta em mãos

e não é porque saiba escrever ou dizer o que quero é

só porque sim



(João do Nascimento)

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