4.6.09

Coincidências


Picos da Europa, 2006

Hoje recebi o meu diploma de curso! 7 anos depois de o ter concluído... depois de já nem me lembrar bem do que aprendi...
Li recentemente que a vida é feita de coincidências às quais devemos estar atentos, pois são "saltos criativos" do universo em que se abrem novas oportunidades nos nossos padrões diários e repetitivos. A minha vida é cheia delas e, olhando para trás, é mais fácil perceber porque tomei certos rumos e não outros, para ter oportunidades que, de outra forma, provavelmente não teria tido:

Entrei em Biologia em 6ª opção! Como grande parte dos meus colegas, queria Medicina mas não entrei por umas décimas. A decisão de ser médica tinha surgido um pouco de repente, fruto de uma visão romântica do futuro (ajudar o próximo, descobrir um remédio para a SIDA ou ser médica numa aldeia remota do interior) e do vício recente na série "ER". Fazia todo o sentido e foi sobretudo um alívio quando decidi, visto que, desde criança, nunca tinha conseguido chegar a nenhuma conclusão acerca das minhas aspirações. A escolha da Biologia foi por acaso (podia ter sido Psicologia, mas à última da hora tive uma ideia qualquer sobre gostar de ver documentários de vida selvagem na TV e, na altura, tanto fazia, porque não esperava ir lá parar...). No final do 1º ano de curso ainda repeti os exames nacionais para tentar mais uma vez. As médias subiram ainda mais e voltei a ficar de fora.
Durante o 2º ano de curso comecei a achar piada a algumas cadeiras e acabei por ficar, à medida que ia descobrindo que havia outras áreas de que gostava: a Antropologia, a Ecologia, a Etologia atraíam-me e isso reflectia-se nas notas. Decidi ficar, aplicar-me e deixar-me estar. Acabei o curso, fiz um estágio em Ecologia e segui para Mestrado, à falta de melhor opção...
O Mestrado foi uma lição, um caminho tortuoso que percorri com altos e baixos, muitos obstáculos e uma grande vontade de desistir. Por teimosia, aguentei e terminei-o com Muito Bom e um comentário do meu arguente do género "Tem aqui um trabalho que dava uma tese de Doutoramento!". E foi assim que coloquei um ponto final (parágrafo ou não, não sei, o tempo o dirá) à minha carreira de bióloga, certa de muitas coisas que não queria fazer, pouco ou quase nada acerca do que queria fazer!

Decidi experimentar a "vida real", o mercado do trabalho noutra coisa qualquer, aquele em que recebemos um ordenado, temos um horário, fazemos descontos e temos direito a subsídios. Não é fácil acordar todos os dias para fazer (quase sempre) a mesma coisa, mal ter tempo para tudo o resto, deixar os sonhos na prateleira, pegar-lhes 1 hora por dia, se tanto, e nunca parar. Mas não me arrependo, respiro fundo, sigo em frente e continuo a acreditar, dia após dia, que a oportunidade vai chegar! Aquela em que vou saber (ou ter umas luzes) por onde seguir, para alcançar o meu lugar no mundo. Vou estando atenta às coincidências, aos pequenos sinais, e nos momentos de maior dúvida olhando para trás, para perceber que tudo acontece por um motivo. Não lamento não ter ido para Medicina. Hoje acho que não teria tido oportunidade de descobrir um outro mundo, que é o que mais gosto de fazer, e que nada tem a ver com saúde, ciências, ou investigação. Se tivesse entrado, não teria conhecido algumas pessoas que são, hoje, minhas amigas, não teria tido tempo para tocar numa banda, na qual surgiu a ideia de se fazerem peças de merchandising... despertando assim as minhas habilidades manuais adormecidas desde a infância; sem um Mestrado com animais não teria ganho interesse pelas plantas... não teria acesso ilimitado ao Jardim Botânico... talvez não tivesse continuado a fotografar! Não teria tido tempo para, um dia, olhar para um pedaço de tecido antigo e imaginar que ficava bem numa mala. Não teria começado a fazer prendas para os amigos, que depressa se tornaram em peças para vender, num mundo ilimitado de opções que se revelou a minha maior paixão, o meu refúgio e objectivo principal! Não estaria aqui hoje, a vencer a timidez diariamente no trabalho, a lidar com pessoas diariamente, a perceber que temos capacidades que nem sonhamos ter!
É neste desenrolar de acontecimentos interligados que tudo faz algum sentido e, às vezes, é a única maneira de não me sentir totalmente à deriva...

Bom fim-de-semana!

8 comments:

SombrArredia said...

.....Olha se nao nos tivessemos conhecido !!!!!!

Não te ia perdoar nesta vida LOL.


(dá cá um abraço apertadooooooooooooooooooo)

Adriana said...

Lol, nem eu! :)))
Abraçoooooooooo

ei! kumpel said...

gostei MESMO muito deste post... no fundo a vida é assim...

bjos!
guida

Adriana said...

Oh Guida, se não tivesse ido para Biologia (e continuado pelo Mestrado) também não te tinha conhecido! E gostei tanto de te conhecer :)

stephe said...

belo post! :) eu gosto de te ter nesta vida :)

Rambas said...

Oi! Feliz coincidência ter-te reencontrado. Todos os dias me lembro de ti e dos outros amigos que fiz durante a licenciatura, muito pouco frequentemente reencontro alguns, normalmente sempre os mesmos... aqueles com que ainda nos podemos cruzar pelas ruas de Coimbra.
Este post tocou-me bastante e confesso que é com os olhos turvos que escrevo este comentário. Nunca pretendi ser médico e até acho que sempre quis mesmo ser biólogo, daquele tipo utópico explorador de florestas virgens que descreve espécies novas para a ciência ou aquele que salva espécies em extinção e torna o futuro mundo num lugar melhor para se viver... Sei que isso é muito difícil de alcançar mas mesmo assim tentei, embarquei num doutoramento em parte porque escasseavam outras opções remuneradas e como não sou rico pareceu-me uma boa opção para começar a pagar contas sozinho. Também o meu PhD tem altos e baixos e ainda está pendurado à espera da 1 ou 2 horas por dia que lhe dedico depois de um dia de trabalho normal, com salário, horários mas sem subsídios ou regalias... apenas descontos e recibos verdes! Também todos os dias penso em desistir... também todos os dias lhe dou uma nova oportunidade! Por coincidência, ou não, também tenho imenso jeito para trabalhos manuais e onde me sinto mesmo mesmo mesmo à vontade é a construir "coisas" com as mãos, em madeira ou metal, a restaurar casas antigas ou bicicletas de colecção. Também adoro fotografia e até lhe dedicava bastante tempo enquanto fui bolseiro mas agora a "loucura do dia a dia" não me deixa nem tempo, nem dinheiro, nem paciência e nem liberdade de espírito para essa paixão e até já vendi recentemente parte do "material"... não gosto de ver as coisas encostadas a ganhar pó!
Por isso me tocaram tanto as tuas palavras, ainda assim, pareces bastante feliz e realizada e isso dá-me esperança e ânimo para continuar a lutar e a procurar a minha oportunidade! Vai dando noticias... Beijinhos
Ricardo Ramalho

Rambas said...

;)

Adriana said...

Oi Ricardo! Que bom ter notícias tuas, a última vez que soube de ti andavas atrás de sapos gigantes e com aventuras em pensões estranhas nos States :).. Não sei se estou realizada, acho que ainda ando à deriva, mas quanto à felicidade procuro-a nas pequenas coisas do dia-a-dia! Sempre com esperança de encontrar o meu lugar no mundo! Por isso não desistas, a oportunidade vai chegar!
Beijinhos

p.s: Sempre invejei um pouco as pessoas que "sempre quiseram ser algo", acredita que é uma bênção!