6.5.11

Do tempo e da vida como era dantes


Photo by Julie Blackmon


Há 10 anos atrás não havia nada disto. Não tinha blog, nem Mundo Flo, nem mesmo computador ou internet em casa. Os dias eram totalmente diferentes, claro, mas tenho alguma dificuldade em recordar-me exactamente como ocupava os tempos livres. Lembro-me de ter, realmente, tempo livre.
Antes da faculdade, os Domingos eram mais melancólicos, por não ter muito que fazer, e as férias longas. Sempre me entretive muito sozinha, sonhava imenso, escrevia, lia, ouvia música e coleccionava tudo o que viesse à mão das minhas bandas favoritas.
Na faculdade, a música tornou-se mais séria, e foi o início do fim (do tempo livre e das certezas), com todos os fins-de-semana ocupados, e uma maior necessidade de gerir as horas extra, para estudar. Já na altura tinha a necessidade de absorver o mundo, e fazia-o sob a forma de recortes e folhas escritas à máquina (o computador veio bastante tarde), com poemas retirados de livros e folhetos de exposições, e fotografia.
Depois do curso veio o Mestrado, o computador próprio e a internet em casa. Descobri o mundo dos blogs e vi aí o sítio ideal para reunir o que tinha andado a coleccionar há tanto tempo. O tempo e o deserto nasceu, e foi-se transformando aos poucos, passando de simples ideias soltas a uma espécie de diário, com exercícios de criatividade pelo meio.
Um dia, de um bocado de tecido de um cortinado antigo, nasceu o Mundo Flo, que encarei com uma tremenda seriedade desde a primeira peça. Embora nunca tenha deixado de praticar o que aprendi em pequena (tive várias experiências teimosas na costura, era eu que fazia os meus vestidos para os concertos, cheguei a projectar alguns produtos de merchandising para a minha banda, e a fazer algumas prendas), foi só nesta altura que surgiu um projecto que mudou a minha forma de ver as coisas, me abriu para um mundo totalmente novo e abalou o meu auto-conhecimento. E desde então nunca mais parei. De trabalhar, de lutar, de questionar. O tempo então, tornou-se algo esquivo e cada vez mais raro, até que lhe perdi completamente o rasto...

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