"-Ouve! - disse ele por fim, como modos algo bruscos. - Sabes com certeza que nada posso fazer de momento?
Os seus dois amigos anuíram, percebendo bem o que ele queria dizer. Segundo as regras da etiqueta animal, não se pode exigir a nenhum deles que faça algo de tenaz, heróico ou tão-só moderadamente activo durante a época de descanso invernal. Todos se encontram sonolentos e alguns passam mesmo esse período a dormir. Todos ficam mais ou menos bloqueados pelo clima; e todos descansam dos extenuantes dias e noites durante os quais os seus músculos tiveram de ser postos à prova duramente e todas as suas energias utilizadas ao máximo.
- Pois então muito bem! - prosseguiu o Texugo. - Mas quando o ano rodar e passar o Inverno, quando as noites ficarem mais curtas e a gente acordar com vontade de agir logo a nascer do sol, se não for antes - vocês já sabem!(...)
Tinham chegado à orla do Bosque Selvagem. Para trás ficavam os rochedos, os espinheiros e as raízes das árvores, confusamente amontoados e enredados; em frente, uma grande área de campos silenciosos, bordejados de sebes, negras sobre a neve, e mais para além um reflexo do velho rio, tão familiar, enquanto o invernoso sol desaparecia, vermelho e baixo, no horizonte. (...) Parando ali a descansar um pouco e olhando para trás, viram o denso volume do Bosque Selvagem, ameaçador, compacto, sinistramente assentado sobre a vasta brancura do ambiente. Num movimento simultâneo, viraram-lhe as costas, rumando rapidamente para casa, para o lume, para as coisas familiares que ela continuava a significar, para a voz do rio que alegremente soava diante da janela, daquele rio que conheciam e em quem sempre confiavam, que nunca os tinha assustado com quaisquer assombros."
(Kenneth Grahame, O Vento nos Salgueiros)
Bem-vindo Inverno!
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