30.4.04

entre as manhãs que sofremos, entre as esperas de tudo o que não nos quis,

havia uma esperança pequena.

não sabíamos que a chuva é um olhar desesperado. não sabíamos que o frio.

entre as manhãs que sofremos, uma lágrima.

e uma lágrima é morrer tão completamente.



éramos as crianças e a água. éramos as árvores.

as folhas das árvores, uma aragem, os pássaros a voar na nossa respiração.

éramos as manhãs e nós a sofrê-las, éramos uma pequena esperança.

não sabíamos que não se pode acreditar, nem sofrer, nem ser criança e água.

havia uma esperança pequena.



procurámos tudo o que não nos quis. esperámos.

entre as manhãs que sofremos. entre a chuva, o frio, as árvores, os pássaros.



éramos a terra triste. éramos uma aragem.

não sabíamos que uma lágrima. não sabíamos que a imensidão

da morte é maior que uma esperança pequena.



(josé luís peixoto)

No comments: