19.9.04



HP Photosmart 620 / Leiria, 2003





Acordar na rua do mundo

madrugada, passos soltos de gente que saiu

com destino certo e sem destino aos tombos.

no meu quarto cai o som depois

a luz. ninguém sabe o que vai

por esse mundo. que dia é hoje?

soa o sino sólido as horas, os pombos

alisam as penas, no meu quarto cai o pó.



um cano rebentou junto ao passeio.

um pombo morto foi na enxurrada

junto com as folhas dum jornal já lido.

impera o declive

um carro foi-se abaixo

portas duplas fecham

no ovo do sono a nossa gema.



sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite

sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme

da joalharia. os lençóis na corda

abanam os prédios, pombos debicam

o azul dos azulejos. assoma à janela



quem acordou. o alarme não pára o sangue

desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo

não gravou

e duma varanda um pingo cai

de um vaso salpicando o fato do bancário.



(Luiza Neto Jorge)

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