31.5.05


Smena Symbol, Agfa 200 ISO - 2005


(...) As cidades, sinto-as febris como adolescentes, dançando sobre as pistas da sua própria luz, consumidas por uma inquietação difusa, cruéis, livres, impuras, amantes absolutas do novo, com toda a sua sujidade inaugural. Sítios de queda e construção, leviandade e levitação, onde os acontecimentos se precipitam em cadeia e a verdade pequena de cada um existe verdadeiramente, alterando a composição química do todo a cada passo. Dizias às vezes que as cidades cansam, de desalmadas. Meu querido, a poluição urbana é feita do lastro azul das almas que gravitam sobre elas, almas antigas e futuras que lutam para se infiltrar na carne do presente, para fazer da memória uma casa em obras. Almas esgarçadas por aquilo que não conseguiram atingir – as cidade dão-nos a medida constante do inatingível, por isso não conseguimos afastar-nos delas. (...)

(Inês Pedrosa, in Fazes-me falta)

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