"(...) Os espelhos vazios reflectem as salas e as jarras de flores. E depois, só depois, o vulto magro que caminha devagar, como se reconhecesse o terreno, uma e outra vez. E no entanto conheço tão bem a casa, os cantos, as sombras, os móveis, os objectos, os livros. Os romances do século dezanove. Os livros de poesia. E as estantes cheias de volumes encadernados que se encontravam aqui antes de mim, que eu folheei nos primeiros tempos, mas pareciam recusar-me, como se estivessem bem assim, fechados, adormecidos. Os livros têm uma existência própria mesmo quando ninguém os lê, ninguém os folheia, ninguém os cheira. E eu deixei-os continuar o seu sono, porque estavam no fundo da casa, faziam parte da alma primitiva da casa e não precisavam de mim (...)"
(Ana Teresa Pereira, in O Verão selvagem dos teus olhos)
(photo by me)
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