14.10.16

Da fragilidade das coisas...


(photo by Anna O.)


"- Estão cada vez mais abstractos - disse-me uma vez.
- Sim.
- A natureza é abstracta.
Deteve-se a meio do bloco. Na página esquerda havia um desenho a lápis, pequenas árvores de fruto no meio da água. Na outra, manchas verdes e brancas, algum rosa; e a mesma fragilidade das coisas que existem simplesmente, um pouco trémulas e cheias de esperança. 

(...)

Depois de fazer alguns esboços havia um momento, sempre inesperado, em que a neve, a água, as plantas, os campos, ou antes, as impressões que tinham deixado em mim, surgiam na tela. Ainda estava ali, a fragilidade das coisas que só querem existir, que se dão inteiramente. As pinceladas evocavam cores, luz, formas, sons, movimento. E depois as dores nos braços e nas costas, e um cansaço por dentro, bem fundo; só tinha forças para lavar as mãos e o rosto, tirar os jeans e a camisa aos quadrados, vestir uma camisola limpa e meter-me na cama."

(Ana Teresa Pereira, in Karen)

2 comments:

Unknown said...

Não sei do que gosto mais... Do texto ou da fotografia!

ana said...

♥♥♥ !