(photo by Anna O.)
"- Estão cada vez mais abstractos - disse-me uma vez.
- Sim.
- A natureza é abstracta.
Deteve-se a meio do bloco. Na página esquerda havia um desenho a lápis, pequenas árvores de fruto no meio da água. Na outra, manchas verdes e brancas, algum rosa; e a mesma fragilidade das coisas que existem simplesmente, um pouco trémulas e cheias de esperança.
(...)
Depois de fazer alguns esboços havia um momento, sempre inesperado, em que a neve, a água, as plantas, os campos, ou antes, as impressões que tinham deixado em mim, surgiam na tela. Ainda estava ali, a fragilidade das coisas que só querem existir, que se dão inteiramente. As pinceladas evocavam cores, luz, formas, sons, movimento. E depois as dores nos braços e nas costas, e um cansaço por dentro, bem fundo; só tinha forças para lavar as mãos e o rosto, tirar os jeans e a camisa aos quadrados, vestir uma camisola limpa e meter-me na cama."
(Ana Teresa Pereira, in Karen)
2 comments:
Não sei do que gosto mais... Do texto ou da fotografia!
♥♥♥ !
Post a Comment