"A felicidade é um estado especial que só pode existir se incluir no seu seio uma certa dose de infelicidade, por muito paradoxal que possa parecer. Sem desequilíbrio, nada se move. Um círculo está em constante desequilíbrio. É bom para fazer andar os carros. Os quadrados não têm essa possibilidade. já estão bem assim, sentados à lareira, a sublinhar a sua hombridade, a sua estrutura sólida. Não são felizes, são produtos industriais saídos de uma máquina de fazer quadrados. A vida é um desequilíbrio e, sem essa instabilidade e assimetria, teríamos apenas um vazio de pedra. A vida que o meu pai desejava. Mas a vida que vale a pena ser vivida precisa do desequilíbrio. De viajar. De abrir janelas."
(Afonso Cruz, in Princípio de Karenina)
A vida não muda ao virar do ano. Nem com as resoluções de ano novo. Mas a cada passagem, é importante olhar para trás, para ver o caminho até então traçado, que não se vislumbrava no olho do furacão. A cada ano aprendo mais alguma coisa, cresço mais um bocadinho, mesmo que cada crescimento contenha as suas dores e cicatrizes. Carrego cada uma delas comigo como parte do meu mapa pessoal, fazem parte de mim, dão-me dimensão e substância.
Se há palavra que descreve o meu ano de 2022 é (auto)CURA. Não uma cura perfeita ou definitiva, nem um processo encerrado, muito pelo contrário, um início. Ciclos que se encerram, outros que se iniciam, sobrepostos e conviventes, que se misturam, que vêm e vão. Que tocam diversas dimensões da minha vida e do meu ser, em diferentes proporções variáveis e intermutáveis. Sempre me debrucei sobre assuntos de saúde e bem-estar e sempre procurei aperfeiçoar-me. É algo que faz parte de mim e me motiva. Mas este ano aprendi que aquilo que pode ser uma vantagem e um ponto forte, pode ser também a minha maior debilidade, se atravessar demasiado a fronteira da busca da perfeição e da estabilidade. Nada na vida é definitivo, ou estático. E com a saúde é igual. Somos seres em contacto permanente com o meio que nos rodeia, e com ele interagimos. Tudo muda, e o segredo da adaptação está precisamente nessa capacidade. Este ano trouxe-me o confronto com alguns medos de frente, muita dor e vulnerabilidade, solidão dentro de mim própria e alguma desesperança. Percebi o quanto as minhas emoções e pensamentos me afectam e podem prejudicar, física, emocional e energeticamente. Aprendi mais sobre a minha velha amiga ansiedade e sobre os meus gatilhos. Por outro lado, percebi que tenho uma força dentro de mim proporcional a tudo isso, que eu julgava perdida, o que me trouxe um poder enorme. Porque se me render e confiar, tenho também em mim tudo o que preciso para me superar e curar. Este ano cuidei de mim como nunca tinha feito antes. Mudei a alimentação, recuperei o movimento, voltei a nadar! Aceitei-me mais, e mudei a minha mentalidade. Experimentei pensar no melhor, para variar. Nem sempre, não para sempre. É um exercício diário longe de estar dominado. Faz-se de disciplina, altos e baixos, perdão e tolerância. Este é só o começo...
No trabalho mantive-me à tona. Talvez a minha intervenção mais importante tenha sido ao nível da recuperação de roupa e aproveitamento de desperdícios. Mas aos poucos fui percebendo o quanto me tenho afastado da minha liberdade criativa e o quanto preciso de abrir espaço para ela. Felizmente nos últimos tempos foi o que fiz, e o resultado não podia ter sido melhor. Se há algo que quero manter para o próximo ano, é essa intenção. Seguir mais a minha vontade e o que me inspira no momento. Mesmo que tenha de aceitar menos encomendas, e errar mais. Quero encher a loja de coisas novas e experimentar ideias há muito em standby.
Quero fazer do próximo ano um lugar de maior leveza, mais vida e alegria. Mesmo no meio do caos, dos tempos difíceis, quero ter a capacidade de ter sempre uma luz acesa dentro de mim.
Obrigada por estarem desse lado. Que o novo anos vos traga essa luz também, sempre viva e brilhante!
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Life doesn't change at the turn of the year. Not even with New Year's resolutions. But at each passage, it is important to look back, to see the path so far traced, which could not be seen in the eye of the hurricane. Every year I learn something more, I grow a little more, even if each growth contains its pains and scars. I carry each one of them with me as part of my personal map, they build me, they give me dimension and substance.
If there's a word that describes my year 2022, it's (self) HEALING. Not a perfect or definitive cure, nor a closed process, quite the contrary, a beginning. Cycles that end, others that begin and mix, overlapping and coexisting, that come and go. Cycles that touch different dimensions of my life and my being, in variable and interchangeable proportions. I have always focused on health and well-being issues and have always sought to improve myself. It is something that is part of me and motivates me. But this year I learned that what can be a strength can also be my greatest weakness, if it crosses too much the boundary of the pursuit of perfection and stability. Nothing in life is final or static. And with health it is the same. We are beings in permanent contact with the environment that surrounds us, and with it we interact. Everything changes, and the secret of adaptation lies precisely in this ability. This year brought me face to face with some fears, a lot of pain and vulnerability, loneliness within myself and some hopelessness. I realized how much my emotions and thoughts affect me and can harm me, physically, emotionally and energetically. I learned more about my old friend anxiety and my triggers. On the other hand, I realized that I have a force within me that is proportional to all of this, that I thought was lost, which brought me an enormous power. Because if I surrender and trust, I also have everything I need to overcome and heal. This year I took care of myself like never before. I changed my diet, reconquered movement, began swimming again! I accepted myself more, and changed my mindset. I tried to think of the best for a change. Not always, not forever. It's a daily exercise far from being mastered. It's about discipline, ups and downs, forgiveness and tolerance. This is only the beginning...
At work I stayed afloat. Perhaps my most important intervention was in terms of recovering clothes and making use of waste. But little by little I realized how far I've been moving away from my creative freedom and how much I need to make room for it. Fortunately, lately, that's what I did, and the result couldn't have been better. If there's one thing I want to keep for next year, it's that intention. To follow what inspires me at the moment. Even if it means having to accept fewer custom orders and make more mistakes. I want to fill my Shop with new stuff and try out ideas that have been on hold for a long time.
I want to make the next year a place of greater lightness, more life and joy. Even in the midst of chaos, difficult times, I want to be able to always have a light on inside me.
Thank you for being on that side. May the new year bring you that light too, always vibrant and alive!
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