29.4.11

De viver aqui







Há dias atravessei a pé a cidade de uma ponta à outra, ao entardecer. Sozinha, na companhia da minha música e dos meus pensamentos. No caminho lembrei-me do dia em que voltei para e da diferença que notei nas pessoas e nos seus hábitos, nas ruas cheias de gente a correr, a caminhar, a passear os filhos ou os cães, mesmo ao anoitecer, sem problemas. Quando o tempo aquece, a cidade ganha uma nova vida, muito devido às estruturas que se criaram junto ao rio, e que continuam a aumentar, e também aos novos comportamentos, mais saudáveis e abertos., menos focados nas aparências. Posso dizer que a minha cidade mudou muito nos últimos 15 anos, e para melhor! Se não fosse isso, teria sentido um choque muito maior quando voltei. Faz 4 anos e meio que estou aqui. Há dias em que me sinto sufocada e cansada de ver sempre as mesmas coisas, passar nas mesmas ruas. Outros sinto-me segura e confortável com as vantagens de uma cidade pequena, com a família por perto, a 5 minutos de tudo. Durante este passeio, senti-me bem aqui!

Bom fim-de-semana!

1 comment:

Sombr|A|rredia said...

Escrevia à mão a cidade



Habitava da cidade
os lugares mais pequenos.

Limpava-lhe o pó,
pintava-lhr os cabelos,
escondia-lhe as rugas
(chegava mesmo a deitar-se
ou a deitar areia sobre as ruas abertas).

Às vezes chorava-lhe no centro
a ausência,
ou matava-lhe os homens
que corrompiam os homens.
Por fim,
esquecia-lhe as feridas.

Escrevia à mão a cidade
e a cidade escrevia-se
sobretudo
no cinzento
no esquecimento.

Eram tão simples as palavras
da cidade,
mas complexos os amigos
que dela habitavam
os lugares mais pequenos.



Filipa Leal
in
A cidade Líquida
e Outras Texturas
(Deriva Editora)