"(...) Decidiu tentar chegar ao pontão. Nunca tinha chegado tão longe. Não passeava, caminhava depressa, estabelecendo uma boa passada. Passo a passo. Um pé atrás do outro. Repetição. Mas não como a repetição da manhã, de quando tinha acordado. Não como a cascata de escuridão. O calcanhar esquerdo, depois o direito na areia dura. Daqui, da posição em que se encontrava à beira de água, o mar parecia ter várias prateleiras, como que uma série de degraus baixos, enquanto uma pequena onda se seguia à outra, na sua lenta corrida pela praia. Quando levantou os olhos viu o vazio entre os dois horizontes. O vento vinha de sul e era morno. Tomava um banho de vento. Afastou os braços do corpo para que o ar circulasse por si. Empurrava-a, soprando-lhe o cabelo para o rosto, mas não se importou. Semicerrou os olhos para se proteger da luz e da brisa. Tinha os olhos húmidos com lágrimas salgadas - nada tinha a ver com a emoção, era apenas uma reacção ao brilho e ao vento quente. Balançava os braços a cada passo, esticava o pescoço, abanava a cabeça, tornava-se consciente de que o ar soprava à sua volta. Fez um jogo consigo própria, experimentando fechar os olhos e continuar a caminhar. Experimentava assim a sua coragem e a sua fé. Tanto quanto podia ver, o caminho que tinha diante de si não apresentava qualquer alteração. Não abrandava o passo, mas continuava em frente como se fosse cega. Mesmo assim, não aguentou mais que um minuto. Teve de abrir os olhos para se certificar de que não havia qualquer perigo adiante de si. Como se o vento se pudesse de repente transformar em rocha.(...)"
(Bernard Maclaverty, in Piano a duas vozes)
Bom fim-de-semana!
::: The simple life, by Arthur Rosenfeld (via Joshua Becker)
1 comment:
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