21.8.13

"... como as portas dos sonhos"





"(...) Ela afastou-se e recolheu-se sob a árvore. "Deixa-me ficar aqui", disse ela, os olhos perscrutando as janelas dos andares em volta. "Só um momento."
Vincent esperou, esperou. A toda a volta do jardim, as janelas olhavam para baixo como as portas dos sonhos, e, lá em cima, no quarto andar, a roupa de uma família vergastava a corda onde fora pendurada. A Lua que agora se punha era como a Lua inicial do crepúsculo, uma etérea roda de carroça, e o céu, escoando-se de escuro, banhava-se de cinza. O vento do alvorecer abanava as folhas da árvore-do-céu, e, à luz pálida, o jardim ganhava um padrão, e os objectos ganhavam uma posição, e dos telhados, anunciando a manhã, vinha o ruído grave, gutural, dos pombos. Uma luz acendeu-se. E outra. (...)"


(Truman Capote, "O falcão sem cabeça", in Contos Completos)

2 comments:

J. said...

tao bonito... gosto tanto de passar por aqui!

bj

Adriana Oliveira said...

Tão bom saber :)