21.5.19

Elffie, the poet cat



Hoje o universo, a minha casa e o meu coração estão mais vazios, têm um buraco enorme cheio de silêncio, onde até há tão pouco tempo habitavas... Ainda te consigo ver se quiser, a passar com o teu andar bamboleante de pernas tortas, seguro de ti, dono de tudo. Ainda consigo sentir o teu calor e o teu ronronar nas minhas pernas enquanto me sento na nossa cadeira do café da manhã, o nosso momento especial a dois. Quase que consigo ouvir o som do trincar da comida, ou do beber a água, e sentir o olhar fixo dos olhos verdes mais bonitos e brilhantes que conheci. Lembro-me perfeitamente do som da tua voz (alta, nunca foste de falinhas mansas), o teu arrulhar de rôla, o cacarejar quando vias um pássaro, os acessos súbitos de gato selvagem e louco. E espero nunca esquecer o teu cheiro, nem o toque da parte de trás das tuas orelhas, o local mais seguro do mundo!
Contigo aprendi a não ter medo de ruídos nem a assustar-me facilmente, eras sempre tu. Aprendi a estar consciente de cada passo e cada gesto, e até dos meus pensamentos, que conseguias ouvir mesmo quando não falava, a sentir-me observada o tempo t-o-d-o! Aprendi o Amor incondicional, sem barreiras de compreensão, sem julgamentos. A amar os gatos, a amar-te mais do que à maioria dos seres humanos... Aprendi a paciência, a dedicação, a ser capaz de cuidar, a ser mãe pela primeira vez... A buscar a calma e a lentidão nos momentos mais mundanos, mesmo em tempos conturbados - observar-te a dormir ou afagar-te o pêlo eram as coisas mais relaxantes que conheci! No final, aprendi a aproveitar e agradecer, mesmo com o coração despedaçado, cada dia extra, cada momento, cada colo, cada sinal de vitalidade. A aceitar que a vida tem os seus rumos sagrados e que nada podemos fazer para o impedir, controlar ou adivinhar, mas que podemos trabalhar-nos com eles. A tomar decisões atrás de decisões, na tentativa de obter respostas, traçar planos que pudessem salvar-te mas, no final, decidir a mais difícil de todas, a deixar-te ir, por Amor. A ser forte o suficiente para estar presente, contigo até ao fim, a dizer-te que tudo ia ficar bem, a falar-te do lugar bonito para onde ias a seguir. A receber a tristeza como algo que também pode ser carregado de beleza. A chorar, porque reprimir o choro todos estes anos não me fez mais forte, só mais nervosa. 

O Elffie deixou-nos ontem, depois de, há quase 3 meses, lhe termos descoberto uma massa grande e feia que lhe estava a obstruir o intestino, e agora também a bexiga. Não chegámos a ter a confirmação da sua natureza, nem do local exacto, apesar dos muitos exames que lhe fizeram, e das muitas tentativas de todos para lhe prolongar a qualidade de vida, porque entretanto continuar se tornou inviável para ele e as alternativas de tratamento se apresentavam demasiado desfavoráveis e dolorosas. Foram 3 meses de ansiedade e muito medo, muita tristeza, mas também de muito Amor. Foi a decisão mais difícil que alguma vez tomei, mas estou certa de ter sido a melhor. Pudemos aos poucos dizer-lhe adeus, e no final estar com ele e ajudá-lo a descansar, tranquila e docemente, num dia lindo de Primavera, depois de ter passado o dia a visitar os seus lugares favoritos da casa (como se soubesse...). Foram 9 anos muito bonitos e estamos gratos por cada dia que passámos na sua companhia. O gato mais querido do mundo (para mim) descansa agora num local bem bonito e especial, cheio de passarinhos e borboletas, flores e Mãe Terra.


...

Today the universe, my house and my heart are emptier, they have a huge hole full of silence, where you used to live until so little time ago... I can still see you if I want to, walking by with your swaying way of crooked legs, confident and owner of everything. I can still feel your warmth and purr on my lap while I'm sitting on our morning coffee chair, our special moment of the day. I can almost listen to the sound of you chewing the food, or drinking the water, and feel you staring at me with the most beautiful and bright green eyes I've ever seen. I perfectly remember the sound of your voice (loud, because you were never soft-spoken), your dove cooing, your clucking whenever you saw a bird, your sudden moments of wild crazy cat. And I hope I will never forget your smell, nor the touch of your back ears, the safest place in the whole world!
With you I've learnt not to fear noises nor getting scared so easily, it was you always. I've learnt to be aware of each step and gesture, even of my thoughts, that you could hear even without words being spoken, and to feel observed a-l-l the time! I've learnt unconditional Love, without translation barriers or judgments. Learn to love cats, to love you more than most humans... I've learnt patience, dedication, being able to care for someone, being a mother for the first time... To look for calm and slowness even in the most mundane moments, even in tough times - watching you sleep or caressing your fur were the most relaxing things I've ever knew! In the end, I've learnt to enjoy and thank for, even with my heart broken, each extra day, each moment, each cuddle, each sign of vitality. To accept that life has its own sacred ways and that we cannot do anything to stop it, control it or guess it, but we can work ourselves through it. Learn to make decisions after decisions, in an attempt to find some answers and trace plans to try to save you, but in the end, to make the most difficult decision of them all, to let you go, for Love. To be strong enough to be with you until the end, telling you everything was going to be ok, telling you about the beautiful place I would take you next. To welcome sadness as something that can be full of beauty as well. To cry, because suppressing crying all these years haven't made me stronger, only more nervous.

Elffie left us yesterday, after almost 3 months ago we've found a huge and ugly mass that was obstructing his colon, and now also his bladder. We haven't come to a confirmation of its nature, nor its exact location, despite the many exams he did, and many attempts to prolong his quality of life a little longer,  because meanwhile continuing became inviable for him, and treatment alternatives were too unfavorable and painful. It has been 3 months of so much anxiety, fear and sadness, but also so much Love. It was the hardest decision I've ever had to take in my whole life, but I'm sure it was the right one. We were lucky enough to say goodbye slowly, and be by his side in the end and let him rest, quietly and softly, on a beautiful day of Spring, after he having spent the day visiting his favourite spots in the house (as he knew...). It was 9 great years and we're grateful for each day we spent in his company. The sweetest cat (for me) now rests in a beautiful special place, full of birds and butterflies, flowers and Mother Earth. 

2 comments:

  1. Dulce Pedroso8:50 PM

    Custa sempre tanto e deixam um vazio tão grande mas temos de aceitar o que não controlamos e agradecer os momentos que vivemos juntos.
    Um grande abraço querida Adriana :*

    ReplyDelete