26.7.21

42







Aos 42 tenho cada vez menos palavras para me descrever pois sinto, tal como o poeta, que elas estão cada vez mais gastas. Sinto que a minha existência oscila na dualidade, raramente atingindo o equilíbrio, mas cada vez mais consciente de que ele é, apenas, ilusório. O meu maior desafio consiste em abrir portas à vida, esperá-la, sem medo nem expectativas, aceitá-la como é, e agradecer-lhe, sempre. Caminhar de mãos dadas com a impermanência. Ser parte integrante de um todo, ainda que muitas vezes não saiba bem qual é o meu papel. Há dias em que tudo isto me maravilha. Outros em que tudo é um cansaço. Mais uma vez, vou oscilando e avançando, pelo centro. Luto diariamente para me reconhecer no espelho e aceitar a pessoa que sou hoje, com todas as rugas e cabelos brancos e expressão nos olhos que estranho. Mas estou a melhorar. Não gosto de me ouvir falar, quando estou em modo de gestão, nem gosto de me ver tentar controlar o mundo à minha volta, mas ainda é mais forte do que eu. Tenho muitos medos, pequenos e grandes, mas acredito cada vez mais em coisas que não sei explicar e confio cada vez mais na voz que tenho cá dentro, quando estou serena. 

Aos 42 gosto cada vez mais do silêncio. E de pássaros. E de águas correntes, que me levam os pensamentos excessivos. Pela primeira vez que me lembro desde a infância, gosto de cor-de-rosa, e têm-me apetecido as cores quentes e térreas. Costumava observar o pôr do sol. Agora assisto diariamente ao nascer do dia. Apaixonam-me o ritmo das coisas, os ciclos da lua, do sol e das estações do ano, da vida em geral.

Não preciso de muito para ser feliz, só dos meus, e de mim inteira, de saúde e de dias simples, de preferência com muito verde, pássaros e água corrente...

...

At 42 I have fewer and fewer words to describe myself because I feel, like the poet, that they words are getting worn out. I feel that my existence oscillates in duality, rarely reaching balance, but I'm aware that it is only illusory. My biggest challenge is to open doors to life, to wait for it, without fear or expectations, to accept it as it is, and to thank for it, always. Walk hand in hand with impermanence. Being an integral part of a whole, even though I often don't know what my role is in it. There are days when all this amazes me. Others where everything is so tiring. Again, I'm swaying and moving forward, through the center. I struggle daily to recognize myself in the mirror and accept the person I am today, with all the wrinkles and white hairs and an expression in my eyes that is strange to me. But I'm getting better. I don't like to hear myself speak when I'm in management mode, nor do I like to see myself trying to control the world around me, but sometimes it's still stronger than me. I have many fears, big and small, but I believe more and more in things I can't explain and I trust more and more in the voice I have inside, when I'm serene.

At 42 I have a growing love for silence. And birds. And running waters, which carry away my excessive thoughts. For the first time I can remember since childhood, I like pink, and I have been craving warm, earthy colours. I used to watch the sunset. Now I watch the days rising. I'm in love with the rhythm of things, the cycles of the moon, the sun and the seasons, of life in general.

I don't need much to be happy, only my people, and myself, whole, health and simple days, preferably with lots of green, birds and running water...


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