8.4.22

About March



Tenho resistido à tarefa de resumir o mês que passou. Março costuma ser este mês de sentimentos mistos. Por um lado, as datas mais bonitas, a família, os dias maiores. Por outro, um longo cansaço, o corpo a ir abaixo, um profundo resistir ao impulso externo de despertar. Este ano não foi excepção. Março foi água. Uma água tremenda, líquida, espessa. Indefinida. Talvez o despertar da Primavera que veio liquefazer os gelos invernais e o que se acumulou em mim nos dias mais escuros, nos últimos anos, talvez. E que parece ter transbordado. Por vezes precisamos de contactar com a nossa vulnerabilidade de forma mais crua para encontrar aquilo que chamamos de força interior. Há dias olhei-a de frente, pela primeira vez em muito tempo. Descobri que é tal como o nome indica, algo que vem de um buraco muito escuro, muito interior, e não de fora, ou de cima, ou de uma camada qualquer superficial do nosso ser, como a minha imaginação teria esperado.. quem diria? Talvez então Março tenha afinal sido um bom mês. De águas que limpam e regeneram, que preparam terreno para algo fértil. Nascer nunca foi tarefa fácil, e leva o seu tempo, não é? Agora sim, bem-vindo Abril! 

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I have resisted the task of summing up the past month. March is usually this month of mixed feelings. On the one hand, the most beautiful dates, family, longer days. On the other, a long weariness, the body going down, a deep resistance to the external impulse to wake up. This year was no exception. March was water. A tremendous, liquid, thick water. Undefined. Perhaps spring's awakening that came to liquefy the winter ices and what accumulated in me during the darkest days, or in these last years, perhaps. And that seems to now have overflowed. Sometimes we need to contact our raw vulnerability in order to find what we call inner strength. A few days ago I looked her in the face, for the first time in a long time. I discovered that it is just as the name implies, something that comes from a very dark hole, really deep inside, and not from outside, or from above, or from some superficial layer of our being, as my imagination would have expected... who would tell? So maybe March was a good month after all. Of waters that clean and regenerate, that prepare the ground for something fertile. Being born was never an easy task, and it takes time, doesn't it? Now I can finally say, welcome April!



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