“A vida é esta estranha escrita que se vai imprimindo nas coisas, ao de leve ou com violência, pegadas mais subtis, pegadas mais fundas.”
(Afonso Cruz, in "A flor e o peixe")
Os meus 44 anos foram uma espécie de processo de transformação dentro de um casulo. Dores de crescimento, contacto com medos profundos, a consciência dos inúmeros limites que criei à minha volta, como protecção perante o desajuste que sinto em relação ao mundo, barreiras que pensava existirem e que não são mais do que meras ilusões, como tudo o resto. Aprendi mais sobre o lugar de onde vêm estas coisas, peças de um puzzle a encaixar. Apenas o início de (mais) um processo de compreensão (e não o são, todos os processos de crescimento, eternos inícios sem fim?), um longo caminho ainda a percorrer, cheio de pedregulhos, mas também de flores para admirar.
Hoje sinto que parte de mim acredita que estas dores me levam a um lugar mais aberto, mais espaçoso, mais luminoso. Todas as grandes mudanças ao longo da vida me trouxeram o catálogo inteiro de emoções, as piores e as melhores. Momentos de morte e transformação profunda, e de renascimento. Todas elas fazem de mim aquilo que sou hoje e me deram as pedras mais preciosas, e esqueço-me demasiadas vezes disso!
Se os 45 forem de mais metamorfoses, fica a minha intenção de confiar que me vão levar aonde preciso de estar, tal como a lagarta confia sem saber da borboleta que irá ser.
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My 44’s were a kind of transformation process inside a cocoon. Growing pains, contact with deep fears, the awareness of the countless limits I created around me, as protection against the misfit I feel in relation to the world, barriers that I thought existed and that are nothing more than mere illusions, like everything else. I learned more about where these things come from, pieces of a puzzle falling into place. Just the beginning of (another) learning process (and aren't all growth processes eternal beginnings without an end?), a long road still to travel, full of boulders, but also flowers to admire.
Today I feel that part of me believes that these pains take me to a more open, more spacious, more enlightened place. All the big changes throughout life have brought me the entire catalog of emotions, the worst and the best. Moments of death and profound transformation, and rebirth. They all make me who I am today and gave me the most precious stones, which I forget about too often!
If the 45’s de involve more metamorphoses, my intention is to trust that they will take me where I need to be, just as the caterpillar trusts without knowing the butterfly it will become.
Self portrait over photo by Cristina Vicente
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