24.5.23

Textile illustrations for Celestices



(Scroll down for EN)


“Era uma vez uma menina sentada no meio da natureza a escrever…”

Foi assim que comecei por prefaciar este livro, Celestices, da minha amiga Celeste Vieira, editado na semana passada pela Ei!Edições iCreate. As ilustrações que criei, a tecido, tintas e linhas, acompanham cada um dos seus 4 capítulos, para além da capa.



A capa é, para mim, uma continuação da ilustração que criei para o blog. É como um amadurecimento, uma camada extra de substância de vida - uma visão menos naif, que simultaneamente abarca a luz e a sombra, o dia e a noite, a Primavera e o Outono, as flores mas também as suas raízes. Acrescentei-lhe um lado mais lunar, mais feminino - porque este livro é sobre uma pessoa real, sobre a sua vida, as suas memórias, as felizes e as tristes, e só com a aceitação de todas as suas dimensões é que há lugar ao crescimento, que a Celeste tem feito tão bem!




Amor

"Os laços de sangue são fortes. Muito fortes, mesmo. O que entretanto descobri é que há pessoas que conseguem ir além dessa fortaleza através do amor. Que a relação que podemos construir com elas chega a quebrar as barreiras do tempo e do espaço. Que há elos especiais… atrever-me-ia a dizer mágicos”

(Maria Celeste Vieira, in Volver, "Celestices") 


Este capítulo fala de laços afetivos, de família, de colo, de Casa. Tem uma certa inocência, a leveza da infância. É a única ilustração em que a personagem está de frente e mostra a cara - este abandono sereno à vida, e é feita com cores primaveris, natureza viva e fios entrelaçados que representam os laços, os abraços.




 
Luto

"Não sei o que está do outro lado desta coisa a que chamamos vida. (...) Uma quantidade infinita de silêncio (...) A passagem é solitária (...) Num refúgio bonito e cheio de paz é onde te imagino.”

(Maria Celeste Vieira, in Do outro lado, "Celestices") 

No luto há a solidão, o silêncio, as sombras maiores que a própria pessoa. É um processo de passagem que lembra o Outono, mas também pode significar a transmutação da dor em algo positivo - há um desconhecido do outro lado, mas também a ideia de que haverá luz do outro lado do túnel, depois de um período de escuridão - apesar de tudo, há esperança.








Saudade

"É-se grato – uma enorme gratidão invade o nosso corpo – por a vida nos dar a oportunidade de estarmos juntos, mais uma vez. A saudade evapora e é somente o presente que importa, o “aqui e agora” que dará lugar, dias depois, a uma nova saudade. E o ciclo da saudade - mata bicho - prossegue. Tal como a vida.”

(Maria Celeste Vieira, in Matar o bicho da saudade, "Celestices") 

Dizem que a palavra saudade não tem tradução, talvez por ser a expressão emocional do vazio. Representei esta sensação permanente de incompletude com árvores despidas numa paisagem desoladora e invernosa, ao longe. A separação do espaço entre o aqui (dentro de casa, à janela, o momento presente) e o lá longe (a paisagem lá fora, os pássaros) é descrita no livro com um "estou aqui e sinto falta dali".  Afinal, é necessário continuar com a vida e ser funcional, apesar da saudade...







Equilíbrio

"Viver, simplesmente, como o pássaro grande que abre as suas asas e voa. Agradecer, por mais um dia, por mais um momento, mesmo que não seja tão brilhante como o dos sonhos.”

(Maria Celeste Vieira, in O pássaro da felicidade, "Celestices") 

O último capítulo é, para mim, a integração de tudo, o amadurecimento, a entrega a algo maior. Aquela ideia de deixarmos de remar contra a maré e sermos a própria maré.  Aceitar a vida de braços abertos, em contemplação e gratidão. Nada bate a sensação de tranquilidade que sentimos quando estamos numa praia, numa tarde de verão, a assistir ao pôr-do-sol ou, simplesmente, quando damos um mergulho no mar!



Fotos 1, 3 e 4 de Luísa Marques; Foto 2 de Nuno Galante


O passado Sábado foi um dia bonito. Assistir e participar na concretização deste sonho da minha amiga Celeste, apresentar o meu trabalho e o fruto desta colaboração maravilhosa foi uma honra enorme! Obrigada!

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EN

“Once upon a time there was a girl sitting in the middle of nature writing…”

That's how I started by prefacing this book, Celestices, by my friend Celeste Vieira, edited last week by Ei!iCreate Editions. The illustrations I created, in fabric, paints and threads, go along with each of its 4 chapters, in addition to the cover.

Cover - this is, for me, a continuation of the illustration I did for Celeste's blog (swipe left). It is like maturing, an extra layer of life substance - a less naive vision, which simultaneously embraces life and shadow, day and night, Spring and Autumn, flowers but also their roots. I added a more lunar, more feminine side to it - because this book is about a real person, about her life, her memories, the happy and the sad ones, and only with acceptance of all her dimensions can there be room for growth, something Celeste has been doing so well!

Amor (Love) - this chapter talks about emotional bonds, family, lap, Home. It has a certain innocence within, the lightness of childhood. It is the only illustration in which the character is facing forward and showing her face - this serene surrender to life, and it is made in spring colors, living nature and intertwined threads that represent bonds, hugs.

Luto (Grief) - here there is loneliness, silence, shadows bigger than the person herself. It is a passage process that reminds of autumn, but it can also mean the transmutation of pain into something positive - there is the unknown, but also the idea that there might be light on the other side of the tunnel, after a period of darkness - after all, there is hope.

Saudade - people say that the word "saudade" has no translation, perhaps because it is the emotional expression of emptiness. I represented this permanent feeling of incompleteness with bare trees in a desolate and wintery landscape, far away. The spacial separation between here (inside the house, at the window, the present moment) and there (the landscape outside, the birds) is described in the book as "I'm here and I miss there". After all, it is necessary to continue with life and be functional, despite the longing...

Equilíbrio (Balance) - The last chapter is, for me, the integration of everything, the maturation, the surrender to something bigger than ourselves. That idea of stopping roaming against the tide and being the tide itself. Accepting life with open arms, in contemplation and gratitude. Nothing beats the feeling of tranquility that we feel when we are on a beach, on a summer afternoon, watching the sunset or, simply, when we dive into the sea!

Last Saturday was a beautiful day. To be able to watch and take part in the realization of this dream of my friend Celeste, to share my work and the fruit of this wonderful collaboration was a huge honor! Thank you!

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