31.12.24

About 2024






2024 passou depressa demais, não fiz quase nada da minha lista de resoluções, e sinto que passei a maior parte do tempo a sobreviver e a tentar pôr alguma ordem no caos do dia-a-dia, um caos real ou percebido, que muito provavelmente mais não é do que a minha resposta ao grande desfasamento que sinto entre a velocidade de tudo o resto e a lentidão que o corpo e a alma me pedem. Acontece-me com frequência constatar que o "tempo certo" não é "o meu tempo". Tudo fora parece rápido, superficial, artificial, efémero. Entretenimento, consumo, um enorme vazio em formato vídeo de 5 segundos em que as ideias, os tiques, a linguagem, os erros, se repetem até à exaustão, ou até deixarem de ser virais para dar lugar ao próximo hit. 
2024 foi um ano (aparentemente) pouco produtivo. Em que muitas certezas que tinha deixaram de existir, se diluíram. Talvez eu esteja também a mudar. Tal como o mundo à minha volta. O grande trabalho foi feito do lado de dentro, ao abraçar o silêncio, ao perceber o quanto peso andava a arrastar , ao ponto de constantemente adiar a minha criatividade, para dar respostas imediatas, para sobreviver. Apesar de tudo, 2024 foi um ano de colaborações, de dar uma mãozinha em projectos bonitos e ver nascer a magia nas mãos de outras pessoas, de abrir um pouco o meu mundo e partilhá-lo. Que bom! Foi também um ano de distribuir jardins de flores e palavras pelo mundo!
Em 2024 abracei a mudança que o meu corpo começa a sofrer e, finalmente, aceitei que nunca vou ter a saúde perfeita, a energia perfeita, mas que mesmo assim me sinto muito melhor do que nos últimos anos.
Em 2024 vi concertos muito bonitos. Passei umas férias incríveis e percebi que ainda me consigo divertir, ainda que de uma forma suave (talvez pela camada excessivamente pesada de amadurecimento que trago em cima), mas, ainda assim... :)
Cultivei a minha mini horta de varanda de forma mais consistente, e um pequeno espaço no quintal da casa dos meus avós. Uma horta humilde mas suficiente para nos dar umas sopas e saladas, e muita paz. Das minhas mãos e da terra nasceram nabiças, couves, alfaces, espinafres, rúcula , manjericão, tomate, cebolinho, alecrim e calêndulas.
Em 2024 vi a minha filha começar a sua aprendizagem na música e adorei reviver algumas emoções do passado quando a vi em palco pela primeira vez.
Apanhei dois grandes sustos com o sr. Linho, mas também aprendi a compreendê-lo melhor.
Em 2024 senti medo, ansiedade, tristeza, frustração e raiva, mas também alegria, gratidão, paz. E muito Amor, que é e será sempre a minha bóia de salvação para navegar as marés com todas as suas correntes.

A palavra que mais repeti a mim mesma em 2024 foi "Confia". Apesar do medo, da incerteza e do cansaço, confiar na vida e em mim tem sido uma grande aprendizagem, sobretudo quando há tanto ruído de fundo. Ouvir mais a voz que me sussurra que vai correr tudo bem, mesmo que não seja fácil. Deixar-me guiar por ela. Deixar-me ir.
A cada passo dado, um novo desafio se abre, e essa confiança foi-se transformando em Rendição. Confiar não é suficiente quando tudo em mim resiste, trava, evita. É na aprendizagem da aceitação leve que o meu caminho se faz agora. Seguir o rumo que a estrada tomar, mesmo sem saber onde me leva, deixar-me estar nas emoções que daí vierem. Fazer o melhor que souber com o que tenho, entregar o que não está nas minhas mãos. 

Que o novo ano nos traga muita paz, amor e tempo de qualidade! Obrigada por estarem aí, comigo!

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2024 has gone by too quickly, I did almost nothing from my resolutions list, and I felt like spending most of the time surviving and trying to put some order in the chaos of everyday life, a real or perceived chaos, which most likely is nothing more than my response to the great disconnection I feel between the speed of everything else and the slowness that my body and soul need. It often happens to me that the "right time" is not "my time". Everything outside seems fast, superficial, artificial, ephemeral. Entertainment, consumption, a huge emptiness in the format of a 5-second video in which ideas, tics, language, typos, are repeated to exhaustion, or until they stop being viral and give way to the next hit.
2024 was an (apparently) unproductive year. In which many certainties I had ceased to exist, just diluted. Maybe I'm changing too. Just like the world around me. The greatest work was done on the inside, by embracing the silence, by realizing how much weight I was dragging, to the point of constantly postponing my creativity in order to give immediate responses, to survive.
Despite everything, 2024 was a year of collaborations, of lending a hand in beautiful creative projects and seeing magic born in the hands of other people, opening up my world a little and sharing it. So good!
It was also a year of distributing gardens of flowers and words around the world!
In 2024 I embraced the changes that my body is going through, and I finally accepted that I will never have perfect health, perfect energy, but that I still feel much better now than I have in recent years.
In 2024 I went to very beautiful shows. I had an amazing vacation and realized that I can still have fun, even if in a gentle way (maybe because of the overly heavy layer of maturity I carry on top), but still... :)
I cultivated my mini balcony garden more consistently, and a small space in the backyard of my grandparents' house. A humble garden but enough to give us some soups and salads, and a lot of peace. From my hands and from the earth, turnips, cabbage, lettuce, spinach, arugula, basil, tomatoes, chives, rosemary and marigolds were born.
In 2024 I saw my daughter begin her music education and I loved reliving some emotions from the past when I saw her on stage for the first time.
I had two big scares with Mr. Linho, but I also learned to understand him better.
In 2024 I felt fear, anxiety, sadness, frustration and anger, but also joy, gratitude, peace. And lots of Love, which is and will always be my life buoy to navigate the tides with all their currents.

The word I repeated to myself most in 2024 was “Trust”. Despite the fear, uncertainty and tiredness, trusting life and myself has been a great learning experience, especially when there is so much background noise. Listening more to the voice that whispers to me that everything will be fine, even if it's in an easy way. Letting myself be guided by it, letting myself go.
With each step taken, a new challenge opens, and this trust has turned into "Surrender". Trusting is not enough when everything in me resists, fights, avoids. It is about learning light acceptance that my path is now made. Following the direction the road takes me, even without knowing where it leads, letting myself sit in the emotions that come. Doing the best I know with what I have, accepting what is not in my hands.

May 2025 bring us lots of peace, love and quality time! Thank you for being there with me!

23.12.24

Christmas in Winter mode









Esta época é, para mim, sinónimo de família e de reuniões com aqueles que me são queridos, aconchego e lar. E, ainda que o ruído seja muito, pois pelo meio há uma boa dose de correrias, compras, stress, conflitos para gerir, dinheiro para gastar, tarefas extra para fazer, prefiro focar-me no que resta da magia desta época, enquanto posso. Mas este é também tempo de pausa, depois de uma das épocas de maior trabalho. Aqueles dias em que, finalmente, expiro todo o ano que passou, e começo os meus balanços internos. Este ano, tal como nos outros, senti uma grande vontade de abrandar, e respeitar o meu corpo, já em modo de inverno e numa corrente oposta a tudo lá fora. E, pela primeira vez, desapeguei-me dos muitos planos que tinha para produzir trabalho, e deixei-me levar por uma maior lentidão. Deixei-me apoderar de um vazio que tem crescido, criativo e existencial. Uma necessidade de ficar quieta, num modo sem tempo, sem forma, sem nome. Como se eu estivesse coberta por uma camada de neve. E deixasse de ver o que está por baixo a germinar. E bem sabemos que não vale a pena desenterrar antes do tempo o que lá está, porque ainda vai nevar mais um pouco, e arruinaria as hipóteses de ver crescer alguma coisa depois. Por agora deixo-me estar, no colo deste vazio, certa de que, lá mais à frente, algo vai nascer. Algo novo ou renovado, não sei, mas confio que será bom. 

Que este seja um Natal de nutrição, de esperança e muito amor!


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This season is, for me, synonymous with family and reunions with those dear to me, comfort and home. And, despite all the noise around, because in between there is a good dose of rush, shopping, stress, conflicts to manage, money to spend, extra tasks to do, I prefer to focus on what's left of the magic of this time, while I can. But this is also the time to pause, after one of the busiest seasons in work. Those days when I finally breathe out the past year and begin taking stock. This year, as in others, I felt a great need to slow down, and respect my body, already in winter mode and in an opposite current to everything outside. And, for the first time, I let go of the many plans I had to produce work, and let myself be carried away by slowness. I let myself be embraced by an emptiness that has grown inside lately, creatively and existentially. A need to be still, in a timeless, formless, nameless mode. As if I were covered in a layer of snow. And stopped seeing what is germinating underneath. And we know that it's not worth digging up what's there too soon, because it's still going to snow a little more, and that would ruin the chances of seeing something grow later. For now, I let myself be, in the lap of this void, certain that, sometime later, something will be born. Something new or renewed, I don't know, but I trust it will be good.

May this be a Christmas of nurture, hope and lots of love!

21.12.24

Winter
















"-Ouve! - disse ele por fim, como modos algo bruscos. - Sabes com certeza que nada posso fazer de momento?
Os seus dois amigos anuíram, percebendo bem o que ele queria dizer. Segundo as regras da etiqueta animal, não se pode exigir a nenhum deles que faça algo de tenaz, heróico ou tão-só moderadamente activo durante a época de descanso invernal. Todos se encontram sonolentos e alguns passam mesmo esse período a dormir. Todos ficam mais ou menos bloqueados pelo clima; e todos descansam dos extenuantes dias e noites durante os quais os seus músculos tiveram de ser postos à prova duramente e todas as suas energias utilizadas ao máximo. 
- Pois então muito bem! - prosseguiu o Texugo. - Mas quando o ano rodar e passar o Inverno, quando as noites ficarem mais curtas e a gente acordar com vontade de agir logo a nascer do sol, se não for antes - vocês já sabem!(...)

Tinham chegado à orla do Bosque Selvagem. Para trás ficavam os rochedos, os espinheiros e as raízes das árvores, confusamente amontoados e enredados; em frente, uma grande área de campos silenciosos, bordejados de sebes, negras sobre a neve, e mais para além um reflexo do velho rio, tão familiar, enquanto o invernoso sol desaparecia, vermelho e baixo, no horizonte. (...) Parando ali a descansar um pouco e olhando para trás, viram o denso volume do Bosque Selvagem, ameaçador, compacto, sinistramente assentado sobre a vasta brancura do ambiente. Num movimento simultâneo, viraram-lhe as costas, rumando rapidamente para casa, para o lume, para as coisas familiares que ela continuava a significar, para a voz do rio que alegremente soava diante da janela, daquele rio que conheciam e em quem sempre confiavam, que nunca os tinha assustado com quaisquer assombros."


(Kenneth Grahame, O Vento nos Salgueiros)


Bem-vindo Inverno! 

9.12.24

Shop update: Note to Self Bracelets





E assim, de repente, já fiz mais de 300 pulseiras desde que comecei há dois anos atrás! Fico muito feliz por saber que tantas pessoas carregam palavras de cuidado e apoio com elas, tornando os seus dias um pouco mais leves! As palavras são poderosas e podem mesmo fazer a diferença! Estas são provavelmente as últimas pulseiras que fiz antes do Natal. Podem encontrá-las online na minha loja Etsy, em Évora na Gente da Minha Terra e também em Aveiro, no espaço Aqui À Volta.

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And, just like that, I have already made more than 300 bracelets since I've started two years ago! It makes me so happy to know so many people are carrying a care and support word with them, making their days a little lighter! Words are powerful and they can really make a difference! These are probably the last bracelets I've made before Christmas. You can find them online at my Etsy Shop; at Évora in Gente da Minha Terra; and at Aveiro, in Aqui À Volta.

3.12.24

About November



À medida que a noite avança sobre o dia e a natureza nos puxa para dentro, ao contrário do mundo que nos obriga a estar sempre presentes no mesmo nível de energia e velocidade, sinto que há um desfasamento interno entre a realidade e as suas possibilidades. Talvez por isso sinta que esta altura do ano activa alguns dos meus medos mais profundos, como se a luz mais ténue tornasse as sombras maiores (do que provavelmente são). Com a idade, esta percepção tem aumentado, com o estado actual do mundo, ainda mais. Se, por um lado, o habito e para ele contribuo (e vice-versa), por outro sinto-me muitas vezes espectadora, como se de um filme para o qual não comprei bilhete se tratasse. Na impotência de mudar o que já está em mudança, tenho repetido muitas vezes a mim mesma que a resistência causa atrito e desgasta, e não leva a lado nenhum. Render é por vezes a melhor das estratégias, sem perder o centro, o do coração.
Novembro foi um constante relembrar disto tudo e, felizmente, muitas foram as ocasiões que me nutriram o coração e me mantiveram à tona. 

Bem-vindo Dezembro. Que sejas suave...


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As the night advances on the day and nature pulls us in, unlike the world that forces us to always be present at the same level of energy and speed, I feel that there is an internal disconnect between reality and its possibilities. Maybe that's why I feel like this time of year triggers some of my deepest fears, like the dimmer light makes the shadows look bigger (than they probably are). As I get older, this perception increases, and with the current state of the world, even more so. If, on the one hand, I inhabit and contribute to it (and vice versa), on the other hand I often feel like a spectator of what seems to be a film for which I didn't buy a ticket. In my powerlessness to change what is already changing, I often repeate to myself that resistance causes friction and wear and tear, and leads nowhere. Surrender is sometimes the best strategy, as long as I don't loose the center, the heart.
November was a constant reminder of all this and, fortunately, there were many occasions that nourished my heart and kept me afloat.

Welcome December. May you be gentle...



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14.11.24

Custom made floral paisley collection



Esta foi uma pequena colecção pessoal que fiz a pedido de uma cliente: uma mala a tiracolo, uma bolsa para a maquilhagem e um conjunto de marcadores de livro que se complementassem entre si. Um pedido muito personalizado, desde as cores, palavras e tecidos escolhidos, tendo as cornucópias e os motivos florais como fio condutor. 

Actualmente não estou a aceitar mais pedidos personalizados, pelo menos até ao final do ano, de modo a poder criar peças novas para a minha e outras lojas a tempo das festas. 

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A very personalized request, from the colors, words and fabrics chosen, with paisley and florals in common. This was a very personal mini collection I made by request: a crossbody bag, a makeup purse and a couple of bookmarks that complement each other.

Currently I'm not taking any more custom made requests, at least by the end of the year, in order to be able to create new items for my and other stores on time for the holidays.



Ref.: m366


Ref.: bl269


Ref.: ml118,119

13.11.24

Visible mending

Ref.: rp75



Ref.: rp74



Ref.: rp72



Ref.: rp73



Ref.: rp78



Ref.: rp80,79


Estes foram alguns remendos visíveis que fiz este ano, sempre em prol da sustentabilidade e de tornar as peças de roupa mais únicas:

- Uma blusa com um pequeno furo provocado pelo sr. Linho
- Uma saia-calça com pequenas manchinhas de ferrugem
- Uma mochila feita por mim, cujo tecido começou a ceder ao fim de 7 anos de uso intensivo
- Umas calças com um rasgão
- Uma túnica com uma mancha de resina
- Roupas da Nina com rasgões 

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These were some visible mending projects I made this year, always in favor of sustainability and making clothing items more unique:

- A blouse with a small hole made by Mr. Linho
- A skirt with small rust stains
- A backpack made by me, whose fabric started to break after 7 years of intensive use
- Trousers with a tear
- A tunic with a resin stain
- Nina's clothes with tears